A União Europeia (UE) revisou suas políticas sobre a venda de veículos a combustão e permitirá a comercialização de alguns modelos com esses motores até 2035. Essa mudança, anunciada pela Comissão Europeia, inclui carros a gasolina, diesel, híbridos plug-in e veículos que utilizam extensores de autonomia a combustão.
Além disso, as montadoras precisam compensar a poluição adicional proveniente desses veículos. Isso pode ser feito por meio do uso de combustíveis de baixo carbono, energias renováveis ou utilizando o chamado “aço verde”, que é produzido com métodos mais sustentáveis. As novas diretrizes também exigem que as emissões de escapamento sejam reduzidas em 90% até 2030, em comparação com a meta anterior de 100%.
Essa decisão traz mais flexibilidade para as montadoras, que vinham enfrentando pressão de países como Alemanha e Itália, além do setor automotivo europeu. A medida pode significar uma transição mais lenta para veículos elétricos na Europa, coincidindo com o cenário nos Estados Unidos, onde o governo atual tem adotado padrões menos rigorosos para a eficiência dos automóveis.
As fabricantes têm encontrado dificuldades financeiras para se adaptar à nova realidade. Por exemplo, a Ford anunciou que registrará um prejuízo significativo devido à reestruturação de sua linha de veículos elétricos.
Essa mudança é vista como uma resposta a um cenário econômico desafiador. As tensões comerciais com os Estados Unidos e a China também influenciam a decisão da UE de fortalecer suas indústrias locais, ajudando a minimizar os custos relacionados à transição para uma economia de baixo carbono.
Embora a UE tenha um compromisso legal de alcançar a neutralidade climática até 2050, governos e empresas estão pedindo mais flexibilidade nas metas, alegando que regras muito rígidas podem prejudicar a estabilidade econômica. Valdis Dombrovskis, comissário de Economia da UE, comentou que o setor automotivo europeu está em um momento crucial, e ações são necessárias para garantir seu futuro.
As novas propostas também contemplam uma margem maior de manobra para as fabricantes ao cumprir as metas de emissões para carros e vans até 2030. Isso permitirá que as montadoras calculem suas emissões como uma média ao longo de três anos. Para as vans, a meta de redução de poluição foi baixada de 50% para 40%.
Outra novidade é a criação de incentivos para veículos elétricos menores, que terão um sistema de “supercréditos” para ajudar a atingir as metas de emissão. Esses carros, com menos de 4,2 metros, também poderão ser isentos de alguns requisitos de segurança por um período de dez anos e receberão vantagens como facilidades de estacionamento e subsídios.
Após essa proposta, o texto ainda precisa passar pela análise do Parlamento Europeu e dos Estados-membros no Conselho da UE. Ambas as instituições podem sugerir emendas, e o formato final será decidido nas negociações entre os três organismos.
Grupos ambientalistas expressaram preocupações de que essa flexibilização nos prazos e metas possa enfraquecer a ambição climática da Europa, tornando-a mais competitiva em relação à China, que tem avançado rapidamente na eletrificação do transporte.
Atualmente, a Europa tem apenas cerca de 5,9 milhões de veículos totalmente elétricos em circulação, muito longe da meta de 30 milhões estabelecida pela Comissão até 2030. O aumento da competitividade com marcas chinesas é também uma preocupação crescente, especialmente com tarifas impostas pela UE que oferecem proteção limitada às montadoras locais.
A pressão política também tem aumentado, especialmente em países com grandes fabricantes, como a Alemanha, onde o governo tem defendido mudanças para proteger empregos na indústria automotiva. Recentemente, primeiros-ministros de várias nações, incluindo Itália e Polônia, pediram à Comissão Europeia que permitisse a continuidade de híbridos e outras tecnologias mais flexíveis após 2035.
O panorama das vendas de carros elétricos a bateria na Europa tem apresentado flutuações. Após incentivos terem sido retirados, houve uma desaceleração nas vendas, mas uma recuperação parcial foi observada com a reinstituição de alguns subsídios. No entanto, o crescimento ainda está aquém das metas estabelecidas.
A adoção de veículos elétricos na região não é uniforme. Por exemplo, na Holanda, 35% das vendas de carros são de modelos totalmente elétricos, enquanto na Espanha esse número é apenas 8%, refletindo desafios como a disponibilidade irregular de pontos de recarga e os altos preços dos veículos.