A desigualdade de renda e riqueza no mundo atingiu níveis alarmantes, com os dados mais recentes revelando que os 10% mais ricos controlam 75% de todo o patrimônio global, enquanto a metade mais pobre se contenta com apenas 2%. A situação se agrava ainda mais no topo da pirâmide: um grupo de menos de 60 mil pessoas, que representa apenas 0,001% da população mundial, possui três vezes mais riqueza do que 2,8 bilhões de pessoas somadas.
Essas informações fazem parte do Relatório Mundial sobre a Desigualdade 2026, elaborado pelo World Inequality Lab e coordenado pelo economista francês Thomas Piketty. O relatório analisa a riqueza em termos de patrimônio líquido, que inclui ativos financeiros, bens imóveis e terras, subtraindo as dívidas.
Quando a análise se concentra na renda, a desigualdade permanece evidente. Os dados mostram que os 10% mais ricos ficam com 53% da renda global, enquanto 50% da população mais pobre ganha apenas 8%. Os 40% da classe média concentram 23% da riqueza e 38% da renda.
Os pesquisadores destacam que, nas últimas três décadas, o grupo mais rico da população foi aquele que mais se beneficiou. A participação do 0,001% mais rico na riqueza total mundial aumentou de 3,8% em 1995 para 6,1% em 2025. Em contrapartida, a fatia destinada aos 50% mais pobres tem se mantido quase estagnada desde os anos 2000, apesar de apresentar alguma melhora nos finais da década de 1990.
O relatório também avalia o impacto de políticas tributárias e programas sociais. Nas últimas décadas, algumas regiões se destacaram na redução da desigualdade. A Europa, América do Norte e Oceania conseguiram diminuir a desigualdade em mais de 30% por meio de impostos progressivos e medidas redistributivas. A América Latina também apresentou avanços com a implementação de políticas a partir dos anos 1990. No entanto, mesmo que o Brasil tenha registrado recentemente o menor nível de desigualdade na série histórica do IBGE, ainda está entre os países com maior desigualdade do mundo.
Um aspecto preocupante do estudo é a constatação de que os bilionários pagam proporcionalmente menos impostos do que muitos cidadãos comuns. Essa desigualdade tributária enfraquece a capacidade dos governos de investir em serviços essenciais, como saúde e educação, e prejudica a justiça social, além de minar a confiança nas instituições.
Os pesquisadores apontam que a situação pode se agravar, especialmente nos países do Sul Global, onde muitos governos gastam mais com juros da dívida do que com serviços públicos básicos. Tanto as economias desenvolvidas quanto as emergentes têm evitado aumentar a tributação sobre os muito ricos.
O relatório sugere três cenários para a taxação de grandes fortunas. Um imposto de 3% sobre aproximadamente 100 mil ultrarricos poderia arrecadar até 750 bilhões de dólares por ano, o que seria suficiente para cobrir o orçamento educacional de países de baixa e média renda. Um imposto de 2% sobre patrimônios acima de 100 milhões de dólares ergueria 503 bilhões de dólares anuais, representando cerca de 0,45% do PIB global. Por fim, uma alíquota de 5% poderia gerar até 1,3 trilhão de dólares por ano, equivalendo a 1,11% do PIB mundial.
Para os pesquisadores, uma coordenação na taxação das grandes fortunas poderia aumentar a capacidade financeira dos países sem prejudicar a classe média ou os mais pobres. Além disso, isso seria fundamental para enfrentar desafios globais nas áreas de educação, saúde e a crise climática.