Em uma jornada pelas águas da Amazônia, quase 100 pessoas participaram do evento “Navegando contra o Fim do Mundo”, um pré-encontro da COP30 organizado por grupos preocupados com a saúde e a preservação ambiental. O evento teve início em Alter do Chão, onde a artista e escritora Yanomami, Ehuana, compartilhou um sonho impactante após acordar: “As paredes do lugar em que estamos caíram, foi assustador”. Essa declaração levanta questões sobre as mudanças necessárias para a construção de um futuro sustentável.
Durante a viagem, a convivência com indígenas, ribeirinhos, cientistas e jornalistas suscitou reflexões sobre que tipos de barreiras precisam ser superadas para a construção de um mundo mais unido. O que ficou claro é que muitos sonhos compartilhados têm um sentido de coletividade, como rios que se encontram.
A participante do evento, que foi chamada de “Parteira de Sonhos”, buscou coletar e compartilhar as aspirações das pessoas, colocando-se em diferentes pontos de Belém com uma placa que dizia: “Conte aqui seu sonho pro mundo”. Através das interações, ficou evidente que os sonhos são relevantes e que muitos não indígenas relataram não se lembrar de seus sonhos, ao contrário dos indígenas que afirmaram sonhar constantemente.
Histórias contadas por figuras como Juma Xipaia, cacica do Médio Xingu, revelaram a conexão profunda entre os sonhos e a realidade. Juma lembrava de um sonho em que um boto a instruía a ouvir a sabedoria do coletivo, ressaltando a importância de estar atenta às vozes que clamam por mudanças. Esse animal, conhecido por sua ecolocalização, simboliza a necessidade de enxergar além da escuridão e das dificuldades que cercam a Amazônia.
No desenrolar das conversas, muitos participantes relataram que a experiência de sonhar e compartilhar sonhos resgata a esperança em tempos incertos. Um estudante de medicina, Renato Araújo, apresentou um sonho que refletia os desafios de sua vida pessoal e as questões mais amplas enfrentadas pela sociedade. Ele fez um paralelo entre sua história e as realidades apresentadas na COP30, reconhecendo a urgência de mudanças significativas para o futuro do planeta.
Outros participantes, como Guilherme Pretti, relataram sonhos que evocavam a força coletiva, utilizando a imagem de formigas para simbolizar a união e a resistência. Essa visualização se conectou a um cântico popular que ecoava nas ruas de Belém durante a marcha, reforçando a ideia de que juntos podem ser a voz de mudança.
No cenário atual, muitas pessoas demonstram preocupação com as decisões tomadas por governantes, especialmente em um Congresso Nacional que tem aprovado leis consideradas prejudiciais ao meio ambiente. Os desafios enfrentados pelas populações indígenas e pela natureza exigem uma nova abordagem, onde o respeito e a escuta são fundamentais.
A jornalista Aline Matulja trouxe um sonho que simboliza a necessidade de se escolher o caminho certo em meio ao perigo. Essa conscientização sobre viver em harmonia com a natureza é refletida nas aspirações de muitos que buscam entender e aprender com os animais e vegetação ao seu redor.
A importância desses relatos é reafirmada por Gabriela Alves, que sonhou com ativistas se reunindo em casas naturais, simbolizando a esperança de que novas soluções podem surgir do diálogo e da união. O convite a sonhar e acordar para a realidade do planeta é um chamado para todos, lembrando que os sonhos podem oferecer novos caminhos e soluções.
Os sonhos têm o poder de nos guiar e oferecer novas perspectivas. Ao permitir que esses desejos coletivos e individuais sejam ouvidos, podemos, juntos, construir um futuro mais sustentável e respeitoso com a natureza e com todas as suas formas de vida. Em meio a tantos desafios, sonhar se torna um ato de resistência e uma forma de lutar pela vida e pela preservação do nosso planeta.