segunda-feira, 01 de dezembro de 2025
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Militarização da Alemanha altera equilíbrio de poder na Europa

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[email protected] EM 1 DE DEZEMBRO DE 2025, ÀS 01:01

A Alemanha está passando por um processo de rearmamento que se intensificou após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Esse movimento pode mudar o equilíbrio de poder na Europa. O Parlamento alemão planeja reintroduzir o serviço militar obrigatório em 2027, caso a meta de aumentar o número de recrutas não seja alcançada. A nova meta é ter 260 mil soldados em sua Força Armada nos próximos anos, um aumento significativo em relação aos cerca de 180 mil atualmente.

O aumento dos gastos com defesa começou em 2022, com a criação de um fundo de 100 bilhões de euros (aproximadamente 620 bilhões de reais) após a invasão russa. Em 2015, quando a Rússia anexou a Crimeia, a Alemanha gastava apenas 1,19% do seu Produto Interno Bruto (PIB) com defesa. Em 2022, esse percentual subiu para 2,12%, e a previsão é que alcance 3,5% até 2029, o que representa um investimento total de aproximadamente 150 bilhões de euros (cerca de 930 bilhões de reais).

Esse aumento coloca a Alemanha com o quarto maior orçamento militar do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China e Rússia. A França, por sua vez, deverá gastar cerca de 80 bilhões de euros (495 bilhões de reais) em 2029, o que torna a diferença no investimento militar entre os dois países ainda mais significativa.

Historicamente, Alemanha e França estabeleceram uma divisão de poder, onde a França, como potência nuclear, era a força militar dominante, enquanto a Alemanha se destacava economicamente. A mudança nas prioridades de segurança da Alemanha indica uma nova busca por protagonismo militar. Isso ficou evidente com a formação da primeira brigada militar alemã no exterior desde a Segunda Guerra Mundial, na Lituânia, em 2023.

A crescente percepção de ameaça da Rússia tem levado outros países da Europa a aumentar seus orçamentos de defesa. Por exemplo, a Polônia já aplica 4,7% de seu PIB em defesa. Entretanto, a capacidade financeira da Alemanha é consideravelmente maior, respaldada por sua sólida classificação de crédito internacional. O governo alemão tem um mecanismo que permite investir em defesa sem ser restringido por limites orçamentários previamente estabelecidos.

Recentemente, a União Europeia também aprovou o aumento de gastos defensivos, apoiando as iniciativas alemãs e o fundo de 100 bilhões de euros promovido anteriormente pelo ex-chanceler Olaf Scholz. A meta é transformar as Forças Armadas alemãs em um pilar central da defesa europeia no futuro, embora isso exija mudanças significativas na cultura estratégica do país.

Embora a maioria da população apoie o retorno do serviço militar obrigatório, uma pesquisa recente indicou que 63% dos jovens afetados são contrários à ideia. A situação da guerra na Ucrânia também pode influenciar futuros investimentos; se houver um acordo de paz, a Alemanha poderá reavaliar seus gastos.

Analistas acreditam que o processo de rearmamento continuará, independentemente das mudanças políticas. A Alemanha já elaborou uma lista com 320 projetos prioritários na área de defesa que devem ser concluídos até 2035, totalizando um investimento de 377 bilhões de euros (cerca de 2,3 trilhões de reais).

Outro aspecto importante é a tentativa da Alemanha de se tornar menos dependente dos Estados Unidos na área de defesa. Apenas 10% desse investimento ficará com empresas americanas, enquanto o restante será direcionado a empresas europeias, principalmente alemãs. A Rheinmetall, uma gigante do setor armamentista na Alemanha, já reportou um crescimento significativo em suas receitas.

Ainda assim, a colaboração com os Estados Unidos continua sendo crucial, especialmente na aquisição de 35 caças F-35, o que levanta dúvidas sobre projetos conjuntos com a França e a Espanha. O primeiro-ministro alemão, Friedrich Merz, deve decidir até o final do ano sobre essas compras.

As tensões se intensificam, e o ministro da Defesa da Alemanha alertou que a Rússia poderia atacar a Otan em 2028, uma afirmação que provoca polêmica. A retórica alarmista sobre a segurança tem sido contestada por especialistas, mas por enquanto, o impulso para o rearmamento persiste, independente das comparações históricas que são levantadas.

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