Após 35 anos, a novela Mico Preto retorna ao Globoplay e reacende lembranças de sua produção conturbada. Lançada em 1990, a trama não apenas abordou um enredo próprio, mas também ficou marcada por conflitos nos bastidores, com discussões entre o elenco e a equipe, além de um macaco-prego que acabava chamando mais atenção do que a própria história.
O autor Marcílio Moraes reavaliou essa experiência em uma entrevista recente, considerando que a divisão da autoria com Leonor Bassères e Euclydes Marinho resultou em uma narrativa desestruturada. Ele expressou que a decisão de compartilhar a autoria, sugerida pela Globo, gerou um enredo confuso, sem um direcionamento claro. Ele ressaltou que a falta de controle nas decisões prejudicou o desenvolvimento da novela. “Mico Preto, na verdade, acabou se perdendo”, comentou Marcílio, refletindo sobre os desafios enfrentados.
Além dos problemas na criação da trama, a novela ficou na memória do público também por conta da protagonista, Louise Cardoso, que revelou, durante a exibição, a dificuldade em interpretar sua personagem, que era excessivamente boazinha e, segundo ela, até insuportável. Louise recordou momentos de desespero enquanto gravava, relatando que, em um dos capítulos finais, quase queria sair da trama.
No elenco, Luiz Gustavo, falecido em 2020, também teve um papel significativo. Em meio a tensões, jovens atores como Renata Castro Barbosa, que tinha apenas 17 anos na época, lidaram com a pressão de gravações, provas escolares e ensaios. Ela compartilhou que essa experiência gerou um esgotamento emocional, levando-a a um burnout. Apesar dos desafios, Renata se recorda de momentos felizes vividos na TV.
O macaco-prego chamado Chico, que aparecia na abertura da novela, desencadeou uma polêmica que ofuscou o enredo. Ele foi alvo de uma ação civil pública que questionava a legalidade de sua participação na novela, com alegações de que a Globo não estava seguindo a legislação que protege a fauna brasileira.
Do lado positivo, a novela também trouxe experiências memoráveis. Glória Pires, que interpretou Sarita, descreveu sua personagem como voluntariosa e com um tom único, lembrando personagens do diretor espanhol Pedro Almodóvar. Em uma situação curiosa, Glória teve dificuldades em chorar durante a gravação da cena final, que foi solucionada apenas quando a música “Benke” de Milton Nascimento foi tocada, ajudando-a a se emocionar verdadeiramente.
Com seu retorno ao Globoplay, Mico Preto se apresenta como um registro da teledramaturgia dos anos 90, mostrando tanto os desafios criativos enfrentados quanto momentos de descontração e aprendizado entre os artistas. A série, repleta de histórias e lições, oferece ao público uma perspectiva única dos bastidores da indústria televisiva da época.