Na quarta-feira, 10 de outubro, a China anunciou seu terceiro Documento de Política para a América Latina e o Caribe. Neste documento, a região é apresentada como uma parceira estratégica e uma parte fundamental do Sul Global, com um papel ativo na construção de um mundo multipolar.
Essa abordagem da China contrasta com a Nova Estratégia de Segurança Nacional (NSS) dos Estados Unidos, divulgada uma semana antes pelo governo Trump. Essa estratégia reafirma a Doutrina Monroe, que considera a América Latina como uma “propriedade” dos EUA, reforçando a visão de que a região deve continuar em uma posição subordinada.
Os contextos dos dois documentos também são diferentes. Os Estados Unidos, após iniciar uma guerra tarifária global e exacerbando as tensões com a China, agora estão reavaliando suas estratégias de segurança. A presença de porta-aviões nas costas da Venezuela, sob a justificativa de combater o narcotráfico, ressalta a intenção dos EUA de manter uma influência forte na região, especialmente em relação ao setor de petróleo.
Por outro lado, a China se posiciona como um parceiro indispensável para a América Latina, oferecendo oportunidades de comércio e cooperação tecnológica. O documento chinês enfatiza o desejo de estabelecer uma relação “igualitária e mutuamente benéfica”. Isso inclui iniciativas em infraestrutura, energia renovável e fóssil, comércio de produtos com maior valor agregado e segurança alimentar. Também são destacadas áreas como intercâmbio científico, educacional e cultural, incluindo a inteligência artificial e a cooperação espacial.
Além disso, a China busca criar um ambiente onde a América Latina e o Caribe possam escolher seu caminho de forma soberana, com apoio de iniciativas como o BRICS e a Iniciativa Cinturão e Rota, que visa promover o desenvolvimento econômico.
O documento chinês também defende a ideia de diálogo civilizacional e a promoção de valores universais como paz, justiça e democracia. A China expressa apoio à transformação da América Latina e Caribe em uma Zona de Paz e à proibição de armas nucleares na região, propondo soluções pacíficas para disputas internacionais e se opondo a qualquer uso de força.
Em contraste, a NSS dos EUA considera a América Latina e o Caribe como sua “esfera natural de segurança”, reiterando a ideia de que a região deve permanecer sob controle americano. O slogan “a América para os americanos”, usado há mais de dois séculos, foi reformulado na NSS, que foi ironicamente chamada de “Doutrina Donroe”.
Embora os imigrantes latino-americanos nos EUA sejam frequentemente vistos como “inimigos internos” e enfrentem deportações, a NSS ainda enfatiza que a região é parte do “Hemisfério Ocidental”, controlado pelos Estados Unidos. A estratégia também menciona preocupações sobre a influência crescente da China e da Rússia, acusando-as de promover práticas corruptas e subversivas na região.
Além disso, a NSS propõe a expansão de bases militares dos EUA e “parcerias de defesa” na América Latina, buscando reforçar o controle na área. O governo americano alerta que bloqueará qualquer tentativa de potências externas de alterar o equilíbrio estratégico no hemisfério, definindo a competição com a China na região como “decisiva” para o futuro do mundo livre.
Nos anos anteriores, Trump já havia feito declarações polêmicas, sugerindo até a anexação de partes do Canadá e da Groenlândia, além de renomear o Golfo do México como “Golfo da América”. Essa postura reafirma a busca dos EUA por manter sua influência na América Latina e o Caribe, mesmo diante de uma crescente presença e interesse da China na região.