Transição Energética no Transporte Coletivo: Abordagens Diferentes entre Europa e Ásia
A transição energética no transporte coletivo urbano está seguindo caminhos muito distintos na Europa e na Ásia. Enquanto as cidades europeias avançam com a eletrificação de ônibus a bateria, países asiáticos, principalmente a China, estão apostando em grandes compras de ómnibus movidos a hidrogênio.
Na Europa, os ônibus elétricos se tornaram a norma nas políticas de renovação de frota. Um exemplo é a operadora pública belga De Lijn, que anunciou a compra de 268 ônibus elétricos da fabricante BYD. Esses veículos, de 12 metros de comprimento e piso baixo, são projetados para uso urbano e regional. Eles utilizam baterias de fosfato de ferro-lítio, conhecidas por sua segurança e durabilidade. A recarga ocorrerá predominantemente à noite nas garagens, o que facilita a operação sem a necessidade de complexa infraestrutura de recarga rápida.
Essa compra faz parte do plano da De Lijn de eliminar gradualmente os ônibus a diesel até 2035. A operadora está utilizando contratos-quadro, que permitem a compra mais flexível de veículos conforme a necessidade, evitando licitações frequentes. Isso garante economia e redução de riscos tanto para o governo quanto para a indústria.
Na Alemanha, o avanço da eletrificação também é visível através da infraestrutura. Em Berlim, a BVG começou a construção de um novo depósito apenas para ônibus elétricos, que incluirá áreas dedicadas à recarga e manutenção. Essa mudança demonstra que a transição energética exige mais do que apenas a troca de veículos, mas também uma reestruturação significativa de garagens, redes elétricas e operações.
Enquanto isso, o uso de ônibus a hidrogênio na Europa avança com cautela. No Reino Unido, um incidente recente envolvendo um ônibus urbano movido a célula de combustível que pegou fogo levantou preocupações sobre a segurança dessa tecnologia. O incêndio, que ocorreu durante uma viagem, não resultou em feridos, mas levou a uma investigação técnica para entender as causas e segurança dos sistemas de hidrogênio. Especialistas ponderam que contratempos como esse não desqualificam a tecnologia, mas indicam a necessidade de mais precauções e treinamento.
Na França, o hidrogênio é visto como uma aposta industrial a médio e longo prazo. A Ligier Automotive e a Bosch Engineering firmaram uma parceria para desenvolver sistemas de propulsão a hidrogênio, buscando melhorar a engenharia antes de uma possível expansão em larga escala.
Por outro lado, a estratégia da China é diferente. Em Guangzhou, a prefeitura anunciou a maior licitação de ônibus a hidrogênio do mundo, com 450 unidades. O governo chinês está assumindo um papel ativo nessa transição, promovendo grandes contratos para acelerar a adoção e produção local de ônibus a hidrogênio. A HTWO Guangzhou, uma subsidiária do Hyundai Motor Group, está fornecendo 224 ônibus, que possuem autonomia de cerca de 576 km. Os ônibus são projetados para serem acessíveis e eficientes, com uma considerável participação da fabricante sul-coreana na iniciativa.
Outros países da Ásia também seguem caminhos variados. Taiwan está installando estações de abastecimento de hidrogênio, reconhecendo a importância da infraestrutura, enquanto a Índia tem concentrado esforços na eletrificação dos ônibus, com várias cidades ampliando suas frotas de veículos elétricos.
Essas diferentes abordagens revelam que não existe uma única solução para a transição energética. A Europa está consolidando as frota de ônibus elétricos, enquanto a Ásia, liderada pela China, explora o hidrogênio em maior escala, assumindo os riscos associados que, normalmente, poderiam ser evitados por operadores privados.
Para o Brasil, o aprendizado é claro: mais do que escolher entre ônibus elétricos ou a hidrogênio, é crucial desenvolver modelos institucionais e regulatórios adequados para sustentar ambas as tecnologias. Sem uma infraestrutura robusta e contratos bem elaborados, a transição pode ficar restrita a promessas, sem que os benefícios cheguem efetivamente aos usuários.