A Relação Entre Ideologia e Poder Econômico e Militar nos Estados Unidos e na China
A economia e as ideologias políticas desempenham papéis fundamentais na construção do poder de um país. Segundo a teoria marxista, a economia, ou infraestrutura, serve como base para as ideologias, que são vistas como superestruturas. Isso significa que as ideias de um momento histórico refletem as condições materiais da sociedade. Um exemplo disso é a imagem de um homem bem vestido que, se tiver dinheiro, parece ter mais poder e respeito.
Os Estados Unidos conseguiram moldar o mundo em sua imagem no século XX porque tinham uma forte base econômica que lhes conferia poder militar. Entretanto, apesar de suas conquistas, a história dos EUA mostra que as ideologias muitas vezes surgiram antes das condições econômicas que as sustentavam.
Se analisarmos o passado, poderemos ver que as grandes ideias e a cultura política dos EUA, que impulsionaram sua ascensão, precederam em muito seu desenvolvimento econômico e militar. Três fatores são essenciais para medir o poder de uma nação: político (ideológico), econômico e militar.
Nesse sentido, atualmente, há um debate significativo sobre se a China superará os Estados Unidos como principal potência mundial nos próximos anos. O historiador Eric Hobsbawm apontou que, apesar da pobreza, os chineses sempre se consideraram um modelo de civilização. Eles não tinham uma visão negativa de si mesmos quando comparados a outras culturas.
No entanto, muitos céticos afirmam que a China ainda está longe de superar os EUA. Isso se deve ao fato de sua economia, embora em crescimento, ainda ser menor que a norte-americana e seu poder militar estar atrás, especialmente no que diz respeito ao armamento nuclear. Apesar de ter o maior exército do mundo em número de soldados, a China ainda não possui a força militar necessária para respaldar suas ambições.
Esse tipo de análise, que se concentra exclusivamente no presente, pode ser impreciso. O que a história nos ensina é que, até meados do século XIX, os líderes dos EUA também formaram suas visões de grandeza antes de possuir os meios materiais para realizá-las. Ideologicamente, figuras como Thomas Jefferson e James Monroe foram cruciais no desenvolvimento dessa mentalidade.
Jefferson, um dos Pais Fundadores dos EUA, escreveu a Declaração da Independência, na qual afirma que seu país deve ocupar uma posição igual entre os poderes da Terra. Essa ideia de grandiosidade foi gerada em um momento em que os EUA ainda eram um país pequeno e sem poder.
Em 1823, Monroe lançou a Doutrina Monroe, que estabelecia a ideia de que a América Latina era uma extensão das influências dos Estados Unidos. Apesar de sua economia ainda estar em desenvolvimento, essa doutrina simbolizava a crença de que os EUA tinham direitos sobre a América Latina. Não se discute aqui a legitimidade desse pensamento, mas sim a distância entre a realidade e a ambição.
Durante o século XIX, os EUA tinham uma visão imperialista, embora sua capacidade militar não estivesse à altura das pretensões. A economia começou a crescer, mas a verdadeira potência não foi alcançada até depois do final do século XIX, quando os EUA se tornaram uma das principais potências imperialistas, com interesses na América Latina e nas Filipinas.
Ideias como o “Destino Manifesto” surgiram nessa época, defendendo que os EUA tinham uma missão divina de expansão. Essa crença foi adotada por líderes políticos e moldou a política externa do país. Mesmo antes de serem a principal potência do mundo, os EUA se viam como tal, aproveitando seu isolamento geográfico como uma vantagem.
O desenvolvimento industrial a partir de 1850, somado à entrada forçada na Segunda Guerra Mundial, finalmente transformou os Estados Unidos em uma potência militar. Após 1945, o país substituiu o Império Britânico como hegemônico, impondo uma nova ordem mundial.
A história dos EUA mostra que a crença nas próprias capacidades pode ajudar um povo a reescrever seu destino. Essa reflexão também pode ser valiosa para outros países que aspiram à grandeza, sugerindo que a construção de um futuro poderoso começa com a construção de uma visão de grandeza.