Na última terça-feira, 25 de novembro, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou um documento que solicita às autoridades russas que aumentem o número de pessoas que se identificam como russas nas regiões da Ucrânia que estão sob ocupação. Este movimento acontece em um contexto onde a relação entre Ucrânia e Rússia se deteriorou significativamente desde o início do conflito, há três anos.
Historicamente, muitas áreas da Ucrânia, especialmente aquelas que fazem fronteira com a Rússia, tinham uma forte presença cultural e linguística russa. No entanto, essa relação começou a mudar com os desdobramentos da guerra. Conforme apontado por Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais, nas regiões de Luhansk, Donetsk, Zaporizhzhya e Kharkiv, mais de 60% da população fala russo. Importante ressaltar que o próprio presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é fluente em russo.
O documento assinado por Putin faz parte da “Estratégia da Política Nacional da Rússia para o período até 2036”. Este plano estipula que 95% da população da Ucrânia deve se identificar como russa até essa data. O texto, que irá começar a valer em janeiro, também propõe outras medidas para fortalecer a identidade cívica russa, promover o uso do idioma e combater a interferência de outros países que possam desestabilizar as relações entre os grupos étnicos.
Trevisan destaca que a ideia de reforçar a identidade russa não é nova. Contudo, ele observa que a Ucrânia tem um forte sentimento nacional, mesmo que uma parte de sua população fale russo. Historicamente, regiões do norte, como a capital Kiev, tendem a ser mais influenciadas pela Europa Ocidental, enquanto as áreas ao sul e leste possuem vínculos mais estreitos com a cultura russa.
O professor também menciona que solicitar que os habitantes assinem um documento afirmando que são russos é um desafio que se distancia da realidade atual. Ele enfatiza que essa medida de Putin pode indicar uma mudança na abordagem em relação à guerra, direcionando-se para uma interferência cultural mais ampla na Europa. Essa preocupação não se limita apenas à Ucrânia, mas se estende a outros países da região, como Geórgia e Moldávia, onde o idioma russo também é bastante falado.
Trevisan sugere que essa operação pode ser uma estratégia de Putin para tentar alcançar uma paz mais rápida, ao mesmo tempo em que gera inquietação entre os países europeus sobre a possibilidade de uma expansão da influência russa. Essa situação atraí a atenção para a complexidade das identidades culturais e políticas que permeiam a região.
Diante desse cenário, o desdobramentos das políticas russas continuarão a ser monitorados, especialmente em relação às suas implicações para a estabilidade na Europa e a dinâmica com seus vizinhos.