Acesso à Prevenção do HIV na Europa: Desafios e Desigualdades
O acesso à prevenção do HIV na Europa ainda é desigual e enfrenta barreiras econômicas e de conhecimento. Um estudo recente mostrou que 41% das pessoas soronegativas de minorias sexuais e de gênero no Reino Unido utilizam a profilaxia pré-exposição (PrEP). No entanto, em muitos países do Leste Europeu, essa taxa é inferior a 15%.
Esses dados foram apresentados pelo professor Kai Jonas, da Universidade de Maastricht, em um encontro dedicado a discutir as dificuldades na implementação da PrEP, que ocorreu em Barcelona. Apesar de alguns avanços, a maioria dos usuários na Europa ainda depende exclusivamente de comprimidos de PrEP, como o tenofovir disoproxil/emtricitabina. As soluções injetáveis, que foram aprovadas, como cabotegravir e lenacapavir, ainda não estão acessíveis em sistemas públicos de saúde no continente.
A pesquisa, que contou com a participação de 50.330 pessoas em 50 países, revelou que 77% dos entrevistados têm um conhecimento básico sobre a PrEP. Entretanto, há disparidades regionais significativas: enquanto na Europa Ocidental mais de 80% das pessoas conhecem a PrEP, na Polônia esse número cai para 51%. O entendimento sobre uma forma específica de PrEP, conhecida como 2-1-1, é ainda menor, com apenas 46% dos entrevistados cientes de como utilizá-la.
A adesão à PrEP oral varia bastante. Em países como Reino Unido, França e Bélgica, as taxas são altas, em torno de 36% a 41%. No entanto, na Irlanda e na Áustria, menos de 25% da população a utiliza, e em países do Leste Europeu e no Cáucaso, a taxa fica entre 4% e 12%, sendo a Ucrânia uma exceção com 20%.
Os jovens adultos enfrentam grandes desafios. Apenas 18% das pessoas com menos de 25 anos conversaram com profissionais de saúde sobre a PrEP. Entre pessoas trans e não binárias, os números são alarmantes: somente 12% discutiram a PrEP com médicos, e apenas 2,8% estão utilizando a profilaxia.
Outro aspecto preocupante é que muitos usuários interrompem o uso da PrEP, geralmente devido a barreiras de acesso, e não por uma redução na necessidade de prevenção ao HIV. Um estudo indicou que 72% dos usuários que contraíram HIV tinham parado de usar a PrEP anteriormente. Entre aqueles que interromperam o tratamento, as principais dificuldades citadas foram o custo e o acesso ao medicamento. A pesquisa também mostrou que 11% das pessoas obtiveram a PrEP de fontes informais, aumentando o risco de descontinuação.
Fatores pessoais também influenciam essa decisão, como o desprezo pelo uso diário de pílulas e preocupações com efeitos colaterais. Depois de parar a PrEP, muitos recorrem a estratégias menos eficazes para a prevenção do HIV.
As opções injetáveis de longa duração ainda não estão disponíveis para a maioria na Europa. Mesmo com a aprovação da Agência Europeia de Medicamentos, a implementação enfrenta desafios relacionados a custos e política de financiamento, com cada país decidindo quais medicamentos cobrirá.
No Reino Unido, o cabotegravir foi aprovado e sua utilização está limitada a pessoas que não se beneficiam da PrEP oral, com um custo significativo. Embora haja inovações, a realidade do acesso à PrEP na Europa permanece complexa e com muitas lacunas a serem preenchidas.