Denisovanos: uma descoberta que mudou a compreensão da história da humanidade
Atualmente, o Homo sapiens é a única espécie humana que habita a Terra. Contudo, cerca de 50 mil anos atrás, ele compartilhava o planeta com outras linhagens, entre elas os neandertais e os denisovanos. Embora haja muita pesquisa sobre os neandertais, os denisovanos, até recentemente, eram pouco conhecidos.
Em 1856, na Alemanha, foi feita a primeira descoberta significativa relacionada aos neandertais: um conjunto de ossos achados em uma pedreira no vale de Neander, inicialmente confundido com restos de urso. Em contraste, os denisovanos só foram identificados em 2010, quando pesquisadores do Instituto Max Planck extraíram DNA de um fóssil encontrado na caverna de Denisova, na Sibéria. O que se descobriu foi surpreendente: o material genético não pertencia a um neandertal, mas sim a uma nova espécie humana.
Quem são os denisovanos?
Os denisovanos são um grupo que se separou dos nossos ancestrais há cerca de 1 milhão de anos. Segundo a paleoantropóloga Silvana Condemi, a divergência entre os denisovanos e as outras linhagens humanas, como os neandertais, ocorreu durante a migração da espécie Homo heidelbergensis, que se espalhou da África para a Europa. Essa separação foi influenciada por mudanças climáticas que fragmentaram seus habitats, dificultando a interação entre as espécies.
A falta de fósseis e a confusão na identificação de outros restos paleontológicos contribuíram para a ignorância sobre os denisovanos até o século XXI.
A expansão e interação dos denisovanos
Os denisovanos se espalharam por diversas regiões do leste asiático e até na Oceania. Em 2024, pesquisadores na China encontraram DNA denisovano em um crânio e em mandíbulas do Tibete e de Taiwan. Essa descoberta revela que os denisovanos eram adaptáveis, vivendo em ambientes variados, desde áreas costeiras até regiões montanhosas frias.
Quando os primeiros Homo sapiens deixaram a África, eles encontraram os neandertais e, posteriormente, os denisovanos, com os quais também se reproduziram. Essa hibridação é considerada essencial para a sobrevivência dos Homo sapiens, que absorveram genes que conferiram vantagens em diferentes ambientes.
A herança genética
Estudos mostram que alguns genes identificados nos denisovanos ainda estão presentes nos humanos modernos. Por exemplo, o gene EPAS-1 encontrado na população do Tibete melhora a eficiência no transporte de oxigênio em altitudes elevadas. Outros genes, como TBX15 e WARS2, também têm raízes denisovanas e são relacionados ao desenvolvimento em altitudes.
Um gene importante, chamado MUC19, relacionado à produção de saliva e defesa contra patógenos, é encontrado em um terço dos indígenas americanos. Essa conexão mostra que, embora os denisovanos não tenham chegado fisicamente à América, sua contribuição genética é significativa.
Mudanças climáticas e extinção
A extinção dos denisovanos parece ter sido influenciada por vários fatores. Dados indicam que suas populações eram pequenas antes de sua extinção, e mudanças climáticas podem ter prejudicado sua adaptação. A transição para um clima mais quente e o desaparecimento de espécies que eles caçavam podem terem sido determinantes para o fim desta linhagem.
Conclusão
A descoberta dos denisovanos transformou a compreensão sobre as origens humanas. Hoje, a pesquisa não se limita a fósseis, mas incorpora genética e biologia, permitindo uma visão mais ampla da história da nossa espécie. Esses avanços ajudam a explicar como interações entre diferentes linhagens moldaram a diversidade genética que encontramos nos humanos modernos. Cada descoberta traz novas informações, ampliando nosso entendimento sobre quem fomos e quem somos.